Falar nem sempre é o melhor caminho. Ter um diploma nunca me tornará melhor que ninguém. Saber mais sobre um tema não me torna detentor desse saber, a ponto do outro não poder opinar. Saber me posicionar frente ao grupo de jovens que ainda estão na escola me fez refletir sobre isso. Ouvir os meninos e meninas do CRIAAD foi essencial para eu e meu grupo entendermos os pontos-chaves segundo o Arco de Maguerês.
Levantamos os temas mais comentados durante a visita, considerando-os pontos-chaves:
Autonomia, hábitos alimentares, ganho de massa magra, emagrecimento, acesso a universidade, territorialidade, perspectiva de vida, memória afetiva, família, rotulagem, meios de renda, classe social e interação entre os adolescentes.
Depois disso percebemos que o ponto central do problema era a AUTONOMIA. Não sei se você já ouviu falar nesse termo antes, mas segundo o dicionário, autonomia significa "Liberdade ou independência moral ou intelectual; Capacidade de autogovernar-se, de dirigir-se por suas próprias leis ou vontade própria; soberania."
Autonomia é uma palavra bem ampla, mas levando para o lado da SAÚDE, autonomia pode incluir, por exemplo, os hábitos alimentares e a prática de atividade física. Dentro destes pontos podemos analisar os meio de renda e o poder de compra, o acesso e a culinária.
É inevitável olhar para adolescentes em regime de semiliberdade e não lembrar da autonomia. Não sei se você já parou pra pensar no privilégio que é poder escolher o que comer no almoço, poder porcionar sua própria comida, fazer sua janta ou escolher comprar um sanduíche no dia que “bater aquela vontade”. Esses jovens não sabem o que é isso! Além de não terem o poder de compra, também não possuem o poder de escolha. Estão privados de escolher quando, onde e o quê comer.
Falar sobre autonomia, um termo muito falado no nosso Guia Alimentar, nesse ambiente do CRIAAD não é tão simples. Mas nosso intuito era influenciar de forma que quando eles saíssem de lá eles pudessem adquirir parte dessa autonomia. Por isso, escolhemos a oficina culinária como uma das atividades práticas.
Após comentarmos sobre o acesso à universidade, falamos dos meios de chegarmos até ela. Falamos do Pré-Vestibular Social, do Enem, das Cotas raciais e sociais, do Prouni e das Bolsas de Auxílio ao Estudante. Além disso, falamos como muitos colegas vendem doces e sanduíches para ajudar na renda mensal e para se manterem na faculdade. Isso despertou muito interesse em alguns, principalmente nas meninas.
No encontro seguinte realizamos a tão esperada oficina culinária de “bolo de pote”. Levamos as massas e os recheios já preparados, explicamos como foi o modo de preparo e cada adolescente pôde montar o seu próprio bolo de pote, de acordo com suas preferências, cultura e criatividade. Fizemos o calculo dos nossos custos e do quanto teríamos de lucro caso escolhêssemos vender. O resultado da oficina foi positivo! Os adolescentes demonstraram gostar muito da dinâmica, se sentiram mais à vontade e se interessaram pela ideia de venda de bolo de potes como forma de obtenção de renda.
Voltando para o tema AUTONOMIA, não poderíamos deixar de falar sobre rotulagem! Compartilhamos sobre a leitura dos rótulos e sobre como saber o que estão comprando e comendo. Ter a consciência que em um determinado achocolatado o ingrediente principal é o açúcar e não o chocolate/cacau, e só depois disso escolher qual achocolatado comprar é parte da nossa autonomia. Para escolhermos o melhor, precisamos saber qual deles é o melhor, precisamos entender o que os rótulos nos dizem e não o que as propagandas desses produtos dizem. Buscamos desenvolver com eles um pensamento crítico em relação aos alimentos que consumimos diariamente, à sua qualidade nutricional e às consequências que eles podem gerar à nossa saúde.
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